BLOG EM CONSTRUÇÃO

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

ESTUDO SOBRE OS BLOGS

Prefácio

Este estudo não pretende de todo ser um ponto de chegada, mas antes o início de um longo caminho a explorar em investigações futuras. De facto, trata-se de um fenómeno ainda pouco aprofundado, pelo que a informação e bibliografia disponíveis se revelaram escassas ao longo da investigação. Esta foi talvez a maior dificuldade que sentimos. No entanto, essa dificuldade foi amenizada pela sensação de descoberta e pela brilhante colaboração dos utilizadores da blogosfera. A sua empatia pelos blogues e a sua disponibilidade impulsionaram a nossa dedicação a este projecto.

De facto, esta forma de comunicação personalizada ocupa um espaço relevante na sociedade. Toda a dinâmica de publicação e leitura de blogues assim como a possibilidade que qualquer pessoa tem de comentar o que é escrito nestas páginas faz com que a blogosfera se exprima também de forma real, através de encontros de utilizadores em vários pontos do país. Por outro lado, também a atenção dada pelos meios de Comunicação Social a este fenómeno realça a sua importância.

Com esta investigação aprofundamos os nossos conhecimentos sobre o tema e esperamos ter contribuído para alargar os horizontes dos utilizadores e dos potenciais futuros adeptos dos blogues. Aproveitamos ainda para agradecer a orientação da Professora Carla Cruz, docente do ISCSP, que foi essencial para cumprirmos os nossos objectivos.


Conclusões do Inquérito

Após a análise dos dados obtidos a partir do inquérito administrado aos utilizadores de blogues, consideramos pertinente retirar algumas conclusões gerais.

Deste modo, apresentamos aqui as conclusões essenciais relativas a cada pergunta do questionário, assim como a confirmação ou refutação das hipóteses apresentadas na metodologia.

1. Em primeiro lugar, realçamos que a maioria dos utilizadores criou o seu blogue pela necessidade de expressar opiniões. Já 32% acrescentam ainda que o fizeram com vista a partilhar informação que se encontra na Internet ou fora dela.

2. Relativamente à segunda questão, mais de 90% dos inquiridos assumem que lêem outros blogues. A escrita apelativa presente nessas páginas e o gosto pela dinâmica da blogosfera são as duas principais razões que os levam a consultar outros blogues. Para além das razões, tentamos perceber quais são os endereços eleitos. Desta forma, a preferência dos inquiridos recai, por esta ordem, sobre o Barnabé, o Abrupto, o Aviz, o Blasfémias e o Janela Indiscreta. É ainda de referir que os dois primeiros são dinamizados por pessoas conhecidas no meio político. As publicações do Barnabé são assinadas por Daniel Oliveira, dirigente e assessor de imprensa do Bloco de Esquerda no Parlamento. O Abrupto, como já foi referido, pertence a José Pacheco Pereira, o ex-eurodeputado social-democrata. Este facto indica de alguma forma que os leitores procuram informação credível sobre factos da actualidade, nomeadamente questões relacionadas com o meio político, funcionando os seus autores, de certa forma, como Opinion Makers[1]. Esta questão deve ser confrontada com o conteúdo de um artigo, disponível em anexo, publicado pela revista Visão com o título “Políticos na Blogolândia”.

3. Uma outra questão fundamental está relacionada com o facto de os blogues funcionarem ou não como uma alternativa aos meios de comunicação social. De facto, aqui a esmagadora maioria (68%) nega que isso tenha acontecido. Este dado leva-nos a refutar a primeira hipótese referente ao nosso problema de pesquisa. Isto porque a comunicação personalizada não se veio opor à comunicação de massa e a grande parte dos utilizadores não substitui os produtos culturais considerados de massa pelos blogues. Ainda assim, 32% dos inquiridos respondem afirmativamente a esta pergunta. Destes, 63% acrescentam que diminuíram o tempo que dedicavam ao consumo de televisão, rádio, imprensa escrita e cinema.

4. Quanto à durabilidade dos blogues no tempo, 56% consideram que estes não são apenas uma moda. Isto porque se trata de um meio de fácil acesso para divulgar informação e expressar ideias e opiniões. Já cerca de 40% consideram que o fenómeno se vai desvanecer com o tempo, pois os blogues vão desaparecer e ser substituídos por outros meios.

5. Uma das hipóteses que colocamos no início do estudo defendia que a dinâmica dos blogues se acentuava em períodos marcados por acontecimentos importantes no seio da sociedade. De facto, cerca de 18% por cento dos inquiridos considera que isto é verdade, mas 34% defende que esta dinâmica se acentua pela necessidade de partilhar, ou seja, não necessariamente porque os utilizadores de blogues estão perante um assunto de relevância social. Isto leva-nos a refutar a nossa segunda hipótese inicial. No entanto, por uma questão de controlo, e uma vez que esta investigação se trata de um estudo de caso (pois a taxa de retorno calculada é inferior a 50%), consideramos que estes resultados possam não corresponder totalmente à realidade. Isto porque, de acordo com os dados do ponto dois deste capítulo, os blogues mais lidos detêm no seu conteúdo acontecimentos actuais relevantes, sobretudo do meio político. Outros inquiridos apontam ainda outras razões que levam à prática da publicação de posts e leitura de blogues, como a existência de interesses em comum por parte dos utilizadores e a necessidade que alguns têm de ganhar visibilidade e protagonismo no meio da blogosfera. É ainda de referir que 12% dos indivíduos não sabe ou não responde a esta questão.

6. Uma outra conclusão relevante recai sobre a questão do anonimato. De facto, 50% dos inquiridos afirmam que não é o facto de terem a possibilidade de omitir a sua identidade que os encoraja a publicar opiniões sobre qualquer assunto sem qualquer receio. Por outro lado, 34% referem mesmo que a questão não se aplica ao seu caso, uma vez que estão, de alguma maneira, identificados no blogue. Assim, apenas 16% admite que o anonimato é uma vantagem deste fenómeno. Estes resultados levam-nos a refutar a terceira hipótese que era justificada pela Teoria da Espiral do Silêncio e afirmava que a adesão aos blogues era uma forma facilitada de expressar opiniões alternativas e minoritárias face à chamada Opinião Pública, sem receio de marginalização.

7. A última conclusão a salientar recai sobre o perfil dos utilizadores, suportado neste estudo por três indicadores: a profissão, a idade e o género. Deste modo, podemos afirmar que os professores (de diversos níveis de escolaridade), os jornalistas e os estudantes são os maiores adeptos dos blogues. Depois, é ainda de referir a forte presença de gestores, advogados e arquitectos no seio da blogosfera, pelo que concluímos que os adeptos dos blogues se dedicam a profissões liberais ou são estudantes. No que concerne à idade, a faixa etária predominante situa-se entre os 25 e os 39 anos, o que à partida revela uma tendência para indivíduos com uma certa consciência pública. Relativamente ao género, são os homens que mais se dedicam aos blogues, o que pode ser justificado pelo que provavelmente também acontece nos meios de comunicação social – a audiência parece ser suportada essencialmente por indivíduos do sexo masculino. De facto, os homens têm aparentemente mais tempo disponível para dedicarem a estas questões, uma vez que a estrutura social indica a uma maior sobrecarga para os elementos do sexo feminino, no que concerne a tarefas domésticas e educativas a somar à sua vida profissional.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

UMA PROTESE PARA OS NOSSOS HANDYCAPS

Deu-se um dia a casualidade de visitar uns amigos, em férias, pela Páscoa, numa aldeia do interior algarvio. Encontrámo-nos no único café da aldeia, onde passámos um fim de tarde frugal em amena cavaqueira.

Vagueando através de um olhar periscópico fixei-me num pequeno anúncio manuscrito, colado na montra do café, que me intrigou reflexivamente e do qual constava: “A quermesse para a compra da prótese para a D. Joaquina, realiza-se no próximo domingo. Traga qualquer coisa de que não necessite”.

Intui de imediato
que a iniciativa se deveria a cidadãos estrangeiros!
Perguntei directamente ao dono do café se vivia algum estrangeiro na aldeia, o que me foi imediatamente confirmado: “sim vive um casal de senhores ingleses, idosos, ali mais acima”.

Seguindo o percurso da minha suspeita por etapas, inquiri o meu interlocutor acerca do teor daquele anúncio, face ao que, esclareceu, tratar-se de uma angariação de fundos, com vista à aquisição da dita prótese, para a coitada da criatura, coisa para alguns cinquenta contos…
Finalmente questionei-o sobre quem a tinha promovido e lá me foi confirmado que se tratava de uma iniciativa do casal inglês.

Mais tarde soube que a iniciativa tinha tido inteiro sucesso, adquirindo-se de facto a almejada prótese para a D. Joaquina.

Os habitantes da aldeia, certamente excelentes pessoas, levaram, provavelmente, “uma vida” a lamentar o infortúnio da D. Joaquina. O casal de cidadãos ingleses, integrados na comunidade, face ao infortúnio da D. Joaquina, agiu!

Promoveram a realização de uma quermesse, angariaram dessa forma os fundos necessários e adquiriram a prótese de que tanto precisava a D. Joaquina.
Esta é, quanto a nós a diferença entre a caridade e a solidariedade! Este é um bom exemplo da diferença entre o alheamento e a participação!

Neste episódio presenciámos as raízes do potencial reformador da sociedade civil!

Esta é uma ideia que politicamente temos da sociedade civil, não o espectro de uma sociedade sentada nas poltronas de uma mega sala de espectáculos, ensonada e pronta a ser agitada para acordar quando se aplaude ou se vaia, acompanhando, indiferente, o ecoar do sentido da manifestação ensurdecedora, mas uma plateia, que neste espectáculo, ocupa legitimamente o palco escrevendo a peça enquanto a representa.

Temos para nós que iniciativas desta natureza, na Europa, são mais típicas de alguns países do Norte, os quais, tendo aderido à Reforma (e em Inglaterra com a ajuda inestimável do amor de Henrique VIII a Ana Bolena) se viram livres do jugo de Roma, o que contribuiu, decisivamente, para a construção de sociedades mais participativas, onde chegaram mais cedo as democracias liberais (regime representativo, pluralismo politico, sufrágio universal, liberdade de expressão) e que não tiveram de esperar pelo marxismo para fazer evoluir o conceito de caridade para o de solidariedade.

E fizeram-no criando condições para receberem a lufada de ar oxigenado que as Revoluções Francesa e Americana trouxeram com os direitos do homem e da cidadania.
Nesses países, organizações da sociedade civil, estimulam, promovem e organizam o trabalho voluntário, a solidariedade concreta a expensas da sociedade civil, realizando obras de mérito social de relevante significado cívico e humano.

Essas sociedades, mais desenvolvidas nesta sede, não apresentam as performances diferenciadas que apresentam face ao nosso, habitualmente lastimoso Pais, por acaso!

Por cá, pelos países do Sul da Europa, pelo menos em Portugal, o temor reverencial a Roma, não permitiu alterações significativas ao status quo e o alheamento conservou-se orgulhosamente, em coerência com o modelo católico da autoridade, da hierarquia e da obediência que influenciou e favoreceu quer o poder tradicional quer as oposições antiliberais, de pendor jacobino ou comunista.